sexta-feira, dezembro 30, 2005

Feliz Ano Novo!

Hoje estou colocando no ar a ultima postagem de 2005. Um ano fantástico onde tanta coisa importante aconteceu na minha vida. E, sem dúvida, a publicação da “Lenda do Violeiro Invejoso” está entre os pontos altos. E que 2006 seja mais bacana ainda... Para mim, para meus leitores, editores e para o mundo todo!
Hoje á noite estarei embarcando para o interior de Minas onde eu sou mestre de um grupo de folia de reis chamado Caravana do Oriente. De amanhã até o dia 6 de Janeiro, dia de Reis, vamos tocar, cantar e visitar as casas na roça. É uma festa muito bonita onde a gente relembra, ao som de violas, cavaquinhos e tambores, o nascimento do menino Jesus e a visita dos três Reis Magos.
Aqui ao lado vemos a bandeira da nossa folia. A bandeira é o elemento mais sagrado da festa e é recebida com grande respeito e devoção pelos moradores das casas onde chegamos.
Então, até a volta e depois eu conto como foi a folia deste ano...

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Violeiro recomendado pelo Prosa & Verso!

Gente, que bacana! Meu livro “A Lenda do Violeiro Invejoso” foi incluído em uma lista de livros infanto-juvenis muito bem recomendados pelo suplemento Prosa & Verso (do jornal O Globo) para este natal.
No artigo, o Violeiro aparece ao lado de Harry Potter, Nárnia, Tin-tin e outros clássicos. Para mim, estar nessa lista é um baita presente de natal e eu só tenho a agradecer aos amigos e leitores, que confiaram e me incentivaram nessa aventura de escrever e publicar esse livrinho...

Dá-lhe Marcolino! Valeu leitores!

P.S. A matéria saiu no suplemento de Sábado, dia 17 de dezembro de 2005, na página 7.

domingo, dezembro 18, 2005

Minha Viola Nova!

Após uma espera de quase oito meses finalmente ficou pronta a viola nova que eu encomendei ao mestre luthier Vergílio Lima. O Vergílio (na foto) é hoje um dos mais respeitados construtores de violas caipiras do Brasil. Aliás, do planeta, já que a maioria dos seus instrumentos acaba deixando a pequena cidade mineira de Sabará e se espalhando por esse mundão de meu Deus.
E dá gosto ver o cuidado com que ele constrói suas violas. Da escolha das madeiras mais nobres, como o Jacarandá, o cedro e o pinho até a precisão milimétrica com que ajusta cada uma das peças. O resultado, como vocês podem ver na foto é uma verdadeira obra de arte. E o som da marvada então, nem se fala!

domingo, dezembro 11, 2005

Feira de Literatura no Colégio Oga Mitá

Olhem só a decoração que os alunos do Colégio Oga Mitá prepararam para a Feira de Literatura do final do ano. As ilustrações foram todas inspirada no meu livro "A Lenda do Violeiro Invejoso" e ficou demais! Além dessa homenagem artística ainda houve outra: os alunos da turma Kaxinawá apresentaram uma encenação daquela grande peleja que tem no final da história. Puxa, eu não sei como agradecer tanto carinho... Esse colégio é demais mesmo e dá gosto ver como seus alunos se apaixonam desde cedo pela literatura.
Brigadão Oga Mitá!

sábado, dezembro 10, 2005

Segunda Edição! Segunda Edição!

Em pouco mais de quatro meses “A Lenda do Violeiro Invejoso” já foi para a sua segunda edição! Notícia boa pra gente divulgar e comemorar!

sexta-feira, novembro 25, 2005

7o Salão do Livro para Crianças e Jovens

A FNLIJ, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil está de parabéns. E ela quem organiza todos os anos o Salão do Livro para Crianças e Jovens. A edição de 2005 está acontecendo nos jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro e reúne inúmeras editoras e selos voltados para a literatura infanto-juvenil.
Eu estive lá na sexta-feira passada, dia 18, e fiz a apresentação do meu livro A Lenda do Violeiro Invejoso para alunos de colégios que visitavam o salão. Hoje, dia 25, voltei lá com mais calma e tive a agradável surpresa de conhecer pessoalmente a escritora Angélica Lopes no stand da nossa editora, a Rocco. Os textos da Angélica são super bem humorados e sua Coleção Melhores Amigas está fazendo o maior sucesso.
Na foto vemos a Angélica Lopes (mais à esquerda) e a Luciana Figueiredo do setor de Divulgação Escolar da Rocco, ambas ao lado do autor desse badalado blog. Vixe, isso aqui está parecendo coluna social...

quinta-feira, novembro 10, 2005

Violeiros Matutos

Só tem uma coisa no mundo mais legal do que ouvir o toque de uma viola. É ouvir o toque de VÁRIAS violas ao mesmo tempo, em harmonia e perfeita afinação. Se você quiser desfrutar um pouco desse prazer, procure conhecer um pouco mais sobre os Violeiros Matutos, um grupo de São Paulo que tem um trabalho muito bacana.
Além de excelentes músicos, alguns dos integrantes do grupo são também professores de viola e isso é uma ótima dica para quem deseja aprender um pouco mais sobre a arte de tocar esse instrumento tão mágico.
Ah, sim e eles me escreveram dizendo que leram e adoraram A Lenda do Violeiro Invejoso. Da próxima vez que eu for a São Paulo quero visitar essa turma no seu Rancho dos Matutos, um espaço dedicado a cultura caipira, localizado bem no coração da cidade. Até fogão de lenha eles têm por lá! Mal posso esperar para ver...
Valeu Matutos!

quarta-feira, outubro 26, 2005

A Revista dos Violeiros

Uma coisa que anda me surpreendendo bastante é a quantidade de pessoas interessadas em conhecer melhor esse universo da viola, com suas tradições, mistérios e crenças. Desde que o meu livro foi lançado, tenho recebido muitos e-mails de leitores que me perguntam onde podem encontrar mais informações sobre o assunto. Aqui vai uma boa dica: editada em Belo Horizonte, a Revista Viola Caipira é a única publicação específica sobre viola e violeiros no país. São artigos sobre o folclore, entrevistas com grandes violeiros, divulgação de eventos por todo o Brasil e muitas dicas sobre como tocar viola tão bem como o Marcolino ou encontrar um mestre tão talentoso como o Juvenal. Na semana passada eu visitei o Pinho, editor da revista e descobri que ele também é violeiro. E dos bons! Vale a pena visitar o site da revista. É só clicar no link que eu marquei aqui no texto.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Violeiro em Belo Horizonte

Na semana passada estive em Belo Horizonte para gravar minha participação no programa de televisão Viola Brasil da TV Horizontes. O programa é apresentado por um dos maiores violeiros que eu já vi na vida: o Chico Lobo (que aparece comigo na foto). O cara é bom mesmo! E o pior é que eu tive de passar por uma tremenda saia justa ao ser convidado para tocar com ele ao vivo no programa, assim sem ensaiar nem nada...
Mas, graças a Deus e a São Gonçalo (o santo protetor dos violeiros) saiu tudo direitinho. Eu li alguns trechos do livro “A lenda do Violeiro Invejoso”, fui entrevistado e ainda deu tempo de tocar umas modas de viola.
Além de excelente músico o Chico é uma figura muito querida no universo da viola caipira e, se tudo der certo, no ano que vem estaremos trabalhando juntos em alguns projetos literários e musicais muito bacanas. Quem viver verá!

P.S. Ah, sim, vai aqui um abração especial para o Mateus, filho do Chico e da Ângela. Ele é um grande fã do Marcolino. Já leu o livro todo e sabe até os versinhos de cor!

P.S. Não deixem de visitar o site do Chico, com informações sobre sua carreira, CDs e Shows.

domingo, outubro 16, 2005

Colorindo Marcolino & Juriti

Outro dia uma leitora chamada Bruna me perguntou se eu já tinha feito alguma imagem em cores do Marcolino. Pois eu fiz sim, Bruna. E aqui está uma delas. Nesse exemplo, eu acrescentei um fundo e colorido a ilustração que está na página 190 do livro "A Lenda do Violeiro Invejoso". Que tal ficou?

P.S. Para visualizar a ilustração com maiores detalhes, basta clicar em cima dela, tá?

sábado, outubro 15, 2005

Voltando da Bienal

Acabei de chegar agorinha mesmo da I Bienal do Livro Infanto-Juvenil de Nova Iguaçu, onde participei de dois eventos ligados ao meu livro. A Bienal, que está acontecendo no SESC e é produzida pela FNLIJ, me impressionou pelo tamanho e pela ótima organização. Espero que em 2007 volte ainda maior e melhor! Olha, esse mês de Outubro está demais: um evento atrás do outro. É a literatura para os jovens mostrando a sua força!

quinta-feira, outubro 13, 2005

Dia das Crianças na Travessa de Ipanema

Ontem, dia 12 de Outubro foi um dia muito especial. Pude conversar com vários novos leitores na Livraria da Travessa, de Ipanema, que estava com uma programação totalmente voltada para o Dia das Crianças. Esse contato entre público e autor, para mim é uma dos maiores baratos da nossa profissão. Valeu leitores!

terça-feira, outubro 11, 2005

Um Cavalo Chamado Coronel

Esse amigão aqui é o Coronel, meu cavalo preferido. Ele mora em Minas Gerais, no sítio onde costumo me refugiar sempre que estou precisando de um pouco de calma e tranqüilidade. É muito legal acordar com o canto dos passarinhos, beber água de mina e, quando a noite chega, se reunir com os amigos em volta do fogão de lenha para contar casos e tocar viola. É bom demais da conta...
O Coronel adora biscoitos cream crackers. Ás vezes, quando menos se espera, ele aparece na varanda e enfia a cabeça para dentro de casa, relinchando para pedir os tais biscoitos. A gente leva cada susto...

sábado, outubro 08, 2005

Violeiro na Lista dos Mais Vendidos!

Lançado em Julho, "A Lenda do Violeiro Invejoso" já apareceu na lista dos mais vendidos da editora Rocco no mês de Agosto! Nada mal, quando se leva em conta que na mesma lista estão os cinco livros do Harry Potter, o novo do Paulo Coelho e diversos outros pesos-pesados publicados pela minha editora. Uma notícia dessas deixa a gente super feliz e vai aqui o meu muito obrigado a todos os leitores que estão comprando e lendo o meu livro. Aliás, para vocês vai ainda um pedido: se gostaram da história, recomendem aos amigos. Se não gostaram, recomendem aos inimigos. Mas, por favor RECOMENDEM!
Valeu, gente!

sexta-feira, setembro 30, 2005

Cordel e Viola no St. Patrick´s

Hoje de manhã tive um encontro muito especial com a 5a Série do Colégio St. Patrick´s, no Leblon. A gente conversou sobre Literatura de Cordel, viola, pelejas e, é claro, sobre o livro A Lenda do Violeiro Invejoso. A turma é super interessada e me encheu de perguntas – o que eu achei ótimo!
O encontro aconteceu na biblioteca e depois a gente se reuniu ao ar livre para produzir essa animada foto. Ah, sim, vou pedir uma coisa para a turma que está lendo o livro: deixem seus
comentários no blog contando o que acharam da história, tá?

Valeu St. Patrick´s!

quarta-feira, setembro 21, 2005

O violeiro visita a Escola Oga Mitá

Na segunda feira passada visitei uma galerinha muito, mas muito bacana mesmo! É a turma Kaxinawá, 3a série da Escola Oga Mitá. Lá na
biblioteca, tivemos uma animada conversa sobre Literatura de Cordel e, ao final, a gente ainda cantou alguns versos do meu livro A Lenda do Violeiro Invejoso, ao som de viola caipira.
A turma já está lendo o livro e eu adorei conhecer o trabalho da Cláudia Pimentel, Dinamizadora da Biblioteca Quincas. Ao final da visita, recebi um presentão: Uma versão artística da capa do meu livro, com mensagens de cada um dos alunos.
Valeu Kaxinawá!

Fábio Sombra

segunda-feira, setembro 19, 2005

Oficina de Desenho na Armazoom

Olhem só essa foto! Até eu confesso que fiquei impressionado com a quantidade de gente que apareceu ontem na livraria Armazoom do Botafogo Praia Shopping. Todos interessados em participar da minha oficina de desenho e cartoons. Foi uma experiência muito legal e, no final, todo mundo teve a oportunidade de ir até o quadro e demonstrar um pouquinho do que conversamos durante a apresentação.
O cartoon é uma forma muito simples de se representar figuras e objetos, sendo bastante usado por ilustradores e desenhistas de humor. Foi, aliás a técnica que utilizei ao criar as ilustrações do meu livro A Lenda do Violeiro Invejoso.
O sucesso da oficina foi tão grande que já estamos pensando em programar uma outra para breve. Aguardem...

domingo, setembro 18, 2005

Minha Viagem ao Peru

Gente, acabei de voltar de uma viagem maravilhosa ao Peru, onde passei os últimos doze dias. Lá eu conheci um dos maiores canyons do mundo. Fica no vale do rio Colca, nos Andes, a quase 4.000 metros de altitude! Do alto dos desfiladeiros dá para a gente ver o vôo dos Condores, essas aves gigantes que chegam a medir mais de três metros da ponta de uma asa até a outra. O lugar é lindo, mas também é frio pra dedéu. Eu me lembrava o tempo todo das aventuras do Marcolino e da princesa Beatrix nas montanhas Frigélidas. Brrrrrrr...

segunda-feira, setembro 05, 2005

Uma Livraria nota dez em São Paulo

No sábado passado estive em São Paulo e conheci um lugar que é um verdadeiro sonho para quem, como eu, gosta de literatura infanto-juvenil: é a Casa de Livros. A livraria fica em uma rua tranqüila e arborizada. O ambiente aconchegante e as prateleiras repletas de títulos são um convite aos pequenos (e marmanjos também) que apreciam a boa leitura. Outra coisa muito bacana é que os vendedores realmente conhecem os livros que recomendam. Dá gosto ver o entusiasmo deles!
Na minha visita, eu fiz uma palestra sobre Literatura de Cordel e cantei alguns trechos da Lenda do Violeiro Invejoso. A sala de palestras estava lotada e, ao final o estoque de livros do Violeiro quase não deu para atender a todos!

domingo, setembro 04, 2005

Barabu ao vivo... E em cores!

Nas páginas 9 e 10 do livro A lenda do Violeiro Invejoso a gente encontra uma ilustração em preto e branco mostrando o reino encantado de Barabu. Pois bem, na semana passada eu finalmente terminei uma pintura em que Barabu aparece em cores. Vocês podem ver o resultado aqui. Ficou bem mais interessante, não é mesmo?
Sabe, uma das coisas mais legais na profissão de escritor (e ilustrador) é poder viajar assim pelos mundos que a gente inventa...

sexta-feira, agosto 12, 2005

O Violeiro na Revista Época!

Olhem só a nota que saiu na seção Destaques da revista Época sobre A lenda do violeiro invejoso. Foi na edição de 08 de Agosto e eu fiquei muito, mas muito feliz mesmo...

"Uma preciosidade."

quarta-feira, agosto 10, 2005

Uma Pintura para Lygia

Tem livros que a gente lê e não esquece nunca mais. Para mim, um deles foi “A bolsa amarela” da escritora Lygia Bojunga. Então, dá para perceber minha satisfação quando, anos depois, a mesma Lygia me telefona para dizer que gostaria de usar uma de minhas pinturas para ilustrar a capa do seu livro “A cama”. Olha, foi uma surpresa muito agradável! Aqui vocês podem ver como ficou o visual dessa nova edição, publicada pela Casa Lygia Bojunga. A pintura retrata o Jardim Botânico do Rio, local onde se passa uma das cenas da história.

segunda-feira, julho 04, 2005

Olhaí a foto do cara!


Bem vindos ao Blog do autor Fábio Sombra e seu livro "A lenda do Violeiro Invejoso". Aqui você poderá encontrar as últimas novidades sobre o violeiro Marcolino Brás e conhecer maiores detalhes sobre o Fábio e sua obra.

quarta-feira, março 30, 2005

O Primeiro Capítulo.


Para quem desejar conhecer um pouquinho mais sobre o meu livro “A Lenda do Violeiro Invejoso”, aqui está a reprodução do primeiro capítulo. Espero que vocês gostem e, se quiserem mesmo saber como termina a história, basta comprar o livrinho, né? Afinal o autor também precisa garantir o leite das crianças...

Capítulo 1. O menino Invejoso.

No tempo em que o avô do meu bisavô era menino, havia no alto da Serra do Pacurité uma casinha de barro coberta de sapé. Nela morava um senhor de longas barbas e cabelos brancos. Seu nome era Juvenal Brás e ele, quando mais moço, havia sido um cantador famoso e respeitado.
Em sua juventude, não havia muita diversão para o povo. Nada de cinema, televisão ou rádio. Por isto, os cantadores – também conhecidos como violeiros – eram muito queridos nas cidades do interior. Eles sabiam tocar viola e conheciam um mundo de histórias, todas elas cantadas em versos.
E Juvenal sabia fazer versos como ninguém. Era tão bom que o povo passou a chamá-lo de mestre Juvenal. Nos dias de feira, ele sentava-se com sua viola em um banquinho e, ao som daquela música suave, ia cantando e contando histórias, cada uma mais bonita que a outra. Histórias de princesas, de fadas, de guerreiros, de dragões.
Assim que o mestre chegava à praça, logo se juntava uma multidão a sua volta. As mocinhas pediam temas de amor, e Juvenal cantava. Os rapazes pediam romances de aventura, e Juvenal também cantava. Não havia história que aquele homem não soubesse.
De vez em quando aparecia algum outro cantador na cidade e desafiava o mestre para uma peleja. Nesses dias, a multidão vibrava e vinha gente de muito longe só para assistir ao formidável duelo em versos.
Juvenal era imbatível numa peleja. Quando ele pegava na viola, os outros cantadores tremiam de medo. Soltando sua voz de trovão, ele começava sempre assim:

O meu nome é Juvenal,
É assim que eu me apresento.
Eu sou bravo como um touro,
Sou ligeiro feito o vento.
Na poesia sou mais forte
Do que o coice de um jumento.

Os adversários ainda tentavam responder, mas em poucos minutos estavam de língua de fora, tontos diante da rapidez com que o mestre ia criando seus versos. Ao final da peleja, Juvenal sempre voltava para casa aplaudido e carregado pelo povo, enquanto o perdedor, de cabeça baixa e orelha quente, tratava logo de deixar a cidade, completamente desmoralizado.
Os anos foram passando e o mestre envelheceu. Seus cabelos ficaram brancos e ele passou a caminhar com dificuldade. Já não ia mais à feira como antigamente, embora fosse ainda muito querido e respeitado por todos. Sua grande distração agora era poder ensinar os segredos de sua arte a Marcolino e Balbino, seus dois afilhados. Eles eram gêmeos e haviam sido deixados em sua porta, dentro de um cesto, em uma noite de natal. Juvenal recolhera os dois bebês e criara-os em sua casa com todo o carinho. Os meninos tinham agora doze anos e eram a alegria do velho cantador.
Para grande satisfação do mestre, desde cedo os garotos demonstraram habilidade para fazer versos e tocar viola. Balbino era um bom poeta, mas Marcolino era três vezes melhor. Ao vê-lo tocar, o velho se enchia de admiração e sorria orgulhoso. Todos diziam que esse menino, quando crescesse, iria se tornar um violeiro ainda mais famoso do que Juvenal.
Não que Balbino cantasse mal, mas todos logo perceberam que era seu irmão quem possuía aquele talento excepcional para encontrar as rimas certas e as palavras mais bonitas, arrancando aplausos da audiência e suspiros das mocinhas. Nas pelejas, Marcolino já era respeitado até mesmo por cantadores bem mais velhos e experientes.
Acontece que o sucesso do sabido é sempre a desgraça do invejoso. E quanto mais crescia a fama de Marcolino, mais aumentava o ciúme no coração de seu irmão. Sabendo que, por mais que se esforçasse, jamais se igualaria a ele, Balbino tratou de imaginar uma maneira diferente de se fazer reconhecido.
Certa vez, ele ouvira a história de um cantador famoso chamado Diogo Pinga-Fogo. O povo dizia que o tal havia vendido a alma ao Diabo em uma noite de Sexta-feira. Desde então, Pinga-Fogo se tornara invencível na arte de fazer versos e pontear a viola. Ganhou rios de dinheiro, comprou fazendas, namorou as moças mais lindas e nunca mais perdeu uma só peleja. Viveu no luxo e no conforto até a idade de noventa e nove anos, nove meses e nove dias.
Mas na hora de sua morte, o Coisa-Ruim não tardou a aparecer para cobrar a dívida. Ele chegou acompanhado por um bando de diabretes de rabo vermelho, e o cantador foi arrastado, esperneando e gritando, diretamente para as caldeiras do inferno. Dizem que está lá até hoje, assando como lingüiça de churrasco. E assim ficará até o fim dos tempos.

– Pensando bem, até que vender minha alma não seria uma má idéia – calculou Balbino – Eu me tornaria um cantador famoso e, como sou jovem, ainda poderia desfrutar por muito tempo da riqueza e da fama antes de chegar aos noventa e nove anos...
Porém, o melhor de tudo seria o prazer de acabar com toda aquela prosa de Marcolino. Ah, ele iria mostrar ao velho Juvenal quem era o mais talentoso daquela família...
Decidido a levar seu plano adiante, Balbino esperou por uma Sexta-feira que fosse de lua cheia. Por volta da meia-noite, pegou sua viola e caminhou até uma figueira velha. Ali, sentado ao pé da árvore ele cantou os seguintes versos:

Lorde Príncipe da Noite,
Ouça o que vou lhe dizer:
Uma alma bem novinha
Tenho aqui, para vender,
Pois o melhor violeiro
Deste mundo eu quero ser.


Pois não é que na mesma hora, apareceu o Capiroto, em pessoa? Ele saiu de dentro de uma nuvem de fumaça e enxofre e, para a surpresa de Balbino, não tinha chifres retorcidos e nem barba de bode velho. Sua aparência era a de um senhorzinho gorducho de meia idade com faces rosadas. Vestia um terno escuro e segurava uma pasta de couro marrom.
Após conversarem um pouco, Balbino explicou ao diabo o que ele queria em troca de sua alma. O homenzinho – que também era advogado – ouviu-o com atenção e rapidamente redigiu uma escritura de venda de almas. Assim que o documento ficou pronto, Balbino tratou de assiná-lo.
A transação toda se deu em menos de cinco minutos. Tudo muito rápido e direto. A seguir, o capeta quebrou a viola velha de Balbino e entregou-lhe uma outra, novinha em folha, de cor negra. Depois, guardou os documentos na pasta de couro e desapareceu em meio a outra nuvem de enxofre (esta ainda mais fedorenta do que a primeira).
Balbino ainda ficou ali, sozinho, debaixo da figueira velha por mais alguns instantes. Logo depois, feliz da vida, o menino guardou sua viola nova e caminhou de volta para casa, cantarolando uns versinhos novos, que acabara de compor:

Aqui vai Mestre Balbino
Violeiro sem igual
Sou melhor que Marcolino
Ganho até de Juvenal
Sou cantador de respeito
Sou poeta genial!

terça-feira, março 29, 2005