Relato de minha visita à uma unidade da FASE durante a 55a Feira do Livro de Porto Alegre.
Aquela quinta-feira, 5 de Novembro de 2009 ficará marcada em minha vida como o dia em que contribuí para a fuga de aproximadamente setenta jovens de uma unidade da FASE - Fundação de Atendimento Sócio-Educativo,
Fugimos juntos. Por cerca de uma hora e meia, viajamos por reinos distantes, assistimos a desafios em versos, ouvimos cantorias e ponteados de violas. Rimos e vibramos com os improvisos do violeiro Magrilim e torcemos juntos por seu amor pela princesa Jezebel. Fugimos sem forçar uma única tranca, sem galgar um só muro, sem acionar um alarme sequer. Escapamos com o auxílio das asas da imaginação, cavalgando cavalos de sonho e tapetes de fantasia.
Minha visita a estes jovens originou-se à partir de uma conversa entre a educadora Solange Carvalho de Souza, funcionária da FASE e Sônia Zanchetta, responsável pela programação infanto-juvenil da Feira do Livro de Porto Alegre. Ao saber que os internos não poderiam deixar a sua unidade, chegou-se rapidamente a uma solução: se os jovens não podiam ir 'a Feira do Livro, então a Feira do Livro iria até eles.
E assim foi feito. Pouco antes do início da minha primeira apresentação oficial, no espaço Arena das Histórias, recebi o convite para visitar os internos da FASE e aceitei de pronto.
Na tarde do dia 5, reuni-me com os jovens no auditório da instituição, a maioria deles na faixa de quatorze a dezoito anos. Conversamos sobre a literatura de cordel, sobre viola, desafios rimados, repentistas e trovadores. Em seguida, cantei os versos do meu livro A peleja do violeiro Magrilim com a formosa princesa Jezebel, acompanhando a narração com ponteados de viola. E me vi diante de uma animada torcida que vibrava intensamente a cada tirada bem respondida, a cada lance de esperteza e a cada rima inesperada da disputa entre os protagonistas do romance.
Ao final, depois de calorosos aplausos, respondi às perguntas da plateia. Queriam conhecer mais sobre a arte e a técnica de versejar. Compararam a disputa de trovadores com as rimas do rap, do funk e do hip-hop e alguns chegaram a me mostrar seus próprios versos. A apresentação, inicialmente prevista para durar quarenta minutos, prosseguiu por mais de uma hora e meia...
Sentimentalismos à parte, foi uma tarde inesquecível. E a visita me convidou a refletir sobre a magia da leitura. A experimentar - de uma maneira tão literal – o poder libertador que as palavras e as imagens trazem consigo. Ao deixar aquela unidade, ao passar por cada um dos portões que se cerravam ás minhas costas, não pude deixar de reparar naquelas fechaduras tão reforçadas, naqueles cadeados tão sólidos. Sólidos sim, mas que naquela tarde não foram fortes o bastante para impedir a nossa fuga rumo a terra dos sonhos e da imaginação.
Ao final da visita pedi ao fotógrafo Márcio Teixeira - que documentou a visita- que me enviasse algumas fotos. Ele assim o fez, mas me alertou que, por determinação da lei e para resguardar a privacidade dos internos, eles só poderiam aparecer em imagens frontais após a devida aplicação digital de tarjas sobre seus olhos.
Reproduzo aqui duas destas fotos e me alegro ao ver que as tarjas conseguiram ocultar o olhar daqueles jovens.
Mas não seu riso.
2 comentários:
Ola fabio aqui e o ricardo que fez o percival no teatro na escola SESI emilia massanti gostaria de saber se você postara as fotos que tirou conosco
parabens pelo blog...
Na musica country VIRGINIA DE MAURO a LULLY de BETO CARRERO vem fazendo o maior sucesso com seu CD MUNDO ENCANTADO em homenagem ao Parque Temático em PENHA/SC. Asssistam no YOUTUBE sessão TRAPINHASTUBE, musicas como: CAVALEIRO DA VITÓRIA, MEU PADRINHO BETO CARRERO, ENTRE OUTRAS...
VIRGINIA DE MAURO a LULLY é o sonho eterno de BETO CARRERO e a mão de DEUS.
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